Ou: Pelo direito de
fazer Humanas
Já não é de hoje que
quando alguém me pergunta sobre o curso que eu quero fazer, ao ouvir a resposta, a pessoa torce a cara.
Lembro como se fosse ontem as vezes que eu dizia que gostaria de fazer História
ou Letras, e o que eu recebia de volta era uma careta e a frase típica “Pra
quê? Vai ser professora?”.
TAP – e eu ficava quieta
no meu lugar.
Eles - "Quê que essa menina tá pensando?haha vai ser pobre haha" |
Eu, nos tropeços da sociedade |
A verdade verdadeira é
que eu nunca fui boa em exatas. Desde a minha pré escola, quando eu me achava a
criança mais inteligente do mundo por ter aprendido a ler antes de todo os meus
coleguinhas, as expressões matemáticas vieram na quarta série e acabaram com
tudo. Eu lembro que naquela época eu queria ser astronauta, e meus sonhos foram
massacrados quando descobri que para isso, era necessário ser um Einstein.
Naqueles tempos, eu não imaginava que eu vivia em um sistema
extremamente restrito e rígido, no qual os números são exaltados e as palavras
são postas em segundo plano. Talvez se eu tivesse a consciência do quanto eu
levaria coices por causa da bendita Matemática, eu não teria negligenciado
aquele dever de casa nunca feito na sétima série. Mas tenho fortes razões em
acreditar que eu não sirvo pra descobrir o valor de X e não me interessa o
ângulo oposto do triângulo circunscrito em uma circunferência de raio 3.
Hoje eu estudo em uma sala
que mais de 60% das pessoas querem fazer medicina, 30% Engenharia, e os 10%
restantes, ou são de Direito ou são os renegados das periferias estudantis dos quais
só recebem uma careta e a frase típica “Pra quê? Vai ser professor?”.Já vou dizendo que não
tenho nada contra em “ser professor”, e o desprezo que a maior parte das pessoas
tem por essa profissão me irrita profundamente; mas não vim falar sobre isso. O
que eu quero falar é: Eu quero ter o direito de fazer humanas em paz.
Quero ter o prazer de
dizer que quero fazer alguma área que eu goste sem repressão porque as
possibilidades de eu ser pobre ao fazer o curso sejam bem maiores do que alguém
que fará medicina. Gostaria de não precisar ouvir algum estudante de Exatas
dizendo o quanto Literatura, História, Filosofia ou Geografia é inútil (Meu
querido, se você prestasse atenção em alguma dessas matérias ao invés de ficar
dormindo, tenho certeza que você compreenderia a nossa sociedade muito mais ao
invés de ficar falando baboseiras no facebook).
Isso aqui não foi um
post para travar guerras entre áreas. Foi só pra dizer que construir uma ponte
não te torna mais importante do que alguém que faz poemas, e tenho dito.
Super gostei do seu post, embora tenha um pouco de exatas no.curso que quero fazer, tambem percebo caras e caras.
ResponderExcluirEu acho que na verdade eu deveria até ter expandido um pouco mais - qualquer pessoa que não queira fazer a tríade sagrada: Medicina, Engenharia e Direito, é vítima de caras tortas!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAi Paloma, você acabou de resumir uma parte da minha vida! haha Realmente o desprezo que muitas pessoas tem pelo curso de humanas é incômodo. Na minha sala tem menos gente querendo fazer medicina (umas cinco), mas exatamente um terço (um terço!) das turma quer alguma engenharia! Quando eu falo que quero fazer história eu ainda sinto as pessoas me olhando como se dissessem 'você é louca....' hahah Enfim, amei o texto!
ResponderExcluirAmiga, bate aqui O/
ExcluirEu entendo perfeitamente! Só agora que eu decidi fazer Audiovisual que o pessoal parou com os comentários, mas só porque eles não fazem a mínima ideia do que se trata haha
Olha, não desiste não, viu! Só a gente sabe o quanto o mundo precisa de bons historiadores! Um dia quem sabe a gente muda esse preconceito.
Oi, Paloma. Tive esse tipo de problema ao querer lecionar. É quase uma piada para quem ouve. Porém, acabei mesmo mudando de ideia por não concordar totalmente com o sistema de ensino que temos, e pela realidade de pagamento das contas futuras (mais pela primeira justificativa).
ResponderExcluirQual curso você quer cursar?
Abraço, gosto muito dos seus escritos.
Ai Ana, eu acho lecionar a profissão mais nobre do mundo, e fico tão revoltada quando acontece piadinhas do tipo.
ExcluirQue pena! O brasil precisa de bons professores, mas eu entendo completamente a sua posição.
Pretendo fazer Audiovisual!
Obrigada, Ana! Volte sempre!