Desde a
primeira vez que eu falei pra alguém que eu gostava de Sex and The City (e
diga-se de passagem, tem muito tempo que sou fã da série), os olhares nem
sempre foram os mais agradáveis. Eu sei, você sabe e é bem provável que a
pessoa que me olhou torto também saiba, que Sex And The City é bem taxado,
estereotipado e, por que não, estigmatizado como uma série fútil no qual
mulheres ricas só querem saber de homens e de compras. Não posso negar que se
você for pegar qualquer sinopse xexelenta é bem provável que seja essa a
impressão que fica, e isso pode ser reforçado principalmente se você levar em
conta opiniões masculinas que não fazem a mínima questão de entrar no universo
feminino sem diminuí-lo.
Eu, uma fã da
série e feminista, acho o contrário. Não digo que seja uma obra perfeita –
longe disso, e creio que isso nunca foi o seu propósito -, mas que ela possui
muitos pontos positivos, é inquestionável, principalmente se você souber como assistir. Em cada episódio, que aborda um tema
específico (geralmente sobre relacionamentos,
e não sobre homens), há a visão de
quatro mulheres solteiras, independentes financeiramente e muito bem sucedidas
em suas profissões, e que em plena década de noventa quando o sexo era tabu e
sinônimo de Aids, falam sobre o assunto com naturalidade, fugindo dos padrões e
sem preconceitos (pois aborda todos os tipos que você pode imaginar).
Primeiramente,
a coisa que mais me chama atenção em Sex And The City é o fato das quatro serem
totalmente diferentes uma das outras. Em cada tema mostrado no episódio, todas
elas têm uma maneira diferente de lidar com ele, e nenhuma é julgada ou vista como pior do que as outras.
Aliás, outro ponto positivo que podemos tirar disso, é cumplicidade feminina.
Em nenhum episódio das seis temporadas*, Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte
competem, trapaceam, falam mal ou qualquer outra coisa semelhante sobre si
mesmas, desmentindo a falácia de que não existe amizade entre mulheres.
Novamente, só
na premissa da série, já vemos mulheres extremamente bem sucedidas em suas
carreiras, e que possuem uma boa vida graças a seu esforço. Algumas pessoas
encaram isso como futilidade, já eu vejo mulheres gastando seu próprio dinheiro
com as coisas que elas gostam. Mesmo com o sucesso profissional, essas mulheres
não escapam das alfinetas da sociedade pelo simples fato de ainda serem
solteiras mesmo estando na casa dos trinta anos. Em diversos pontos do seriado,
isso é tratado com muita ironia e crítica, mostrando que não há nada de errado e
ou desesperador em não ter um parceiro nessa idade.
O fato de
terem quatro protagonistas é usado de forma inteligente até mesmo nesse
quesito. A série não cai no clichê de que “mulher independente é mulher sem
marido”, já que uma delas, Charlotte York, deseja casar e ter filhos. Eu acho
muito importante mostrar que o empoderamento feminino não é esse estereótipo, uma
vez que o feminismo hoje está sendo discutido e invenções mais escabrosas vem a
tona (lê-se que o feminismo deseja acabar com a “família tradicional” e outras
bizarrices). Outras duas personagens, se imaginam solteiras para o resto de
suas vidas e focam no seu lado profissional e nas paqueras cotidianas, enquanto
Carrie simplesmente não sabe o que quer de fato. São mulheres bem reais, se
você quer saber...
Somente o
básico sobre o seriado já mostra vários pontos feministas, ao meu ver, porém, é
na temática de cada episódio que realmente vemos a grande chave do sucesso e
qualidade de Sex And The City. Veja bem, não é em todos os seriados que vemos
mulheres falando sobre masturbação, até mesmo nos dias de hoje. Diversas vezes
é incentivado que a mulher se conheça e se ame, se permita conhecer novos
prazeres, não ter culpa de ser quem ela é. Dentre tantos assuntos relevantes,
posso citar alguns que me vem a cabeça agora, como o aborto, a bissexualidade, autoestima,
o que é ser vadia, independência...
Por ser uma
série que se trata de um universo restritamente feminino, é claro que
dificilmente homens irão gostar (há exceções, é claro). Com isso, obviamente, é
aberto a margem para o programa ser taxado como fútil e diminuído em diversos
aspectos, como se nada de relevante possa sair de algo construído, falado,
exposto e feito, por e para mulheres – sendo ridicularizado até mesmo em
seriados ruins como The Big Bang Theory. Nada de novo sob o sol.
É uma série
que trata sobre relacionamentos? Sim. É uma série que fala muitas vezes sobre
homens? Sim. É uma série com protagonistas ricas e consumistas? Uhum. Mas
também é uma obra que explora a liberdade sexual e de expressão, que busca
mostrar o mundo feminino e seus horizontes, que incentiva o autoconhecimento e
fomenta discussões socioculturais. Sex And The City é isso tudo, mas é
principalmente, sobre as mulheres e suas próprias escolhas.