Esta postagem faz parte da Blogagem Coletiva do Rotaroots do mês de julho.
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Até hoje me lembro de uma reportagem do
Fantástico que no final várias crianças em coro cantavam "Another Brick
In The Wall" do Pink Floyd. Eu devia ter uns oito anos na época, e lembro-me
muito bem da sensação "já ouvi isso em algum lugar...". Naquela época
eu formulei uma tese que algumas coisas são tão universais, que mesmo se a
gente nunca a tenha ouvido de fato, ela já está no nosso subconsciente
esperando para se manifestar. Então, mesmo se alguém esteja escutando neste
momento "Another Brick In The Wall" pela primeira vez, ela ficará com a impressão de "já ouvi isso em algum lugar...".
Pare para
pensar e você verá que não é algo tão absurdo assim, pois há coisas que parecem
que a gente já nasce conhecendo. Você se lembra da primeira vez que ouviu falar
de Shakespeare? De Beethoven? Pois é, nem eu. Mas eu me lembro, por mais
universal que este nome possa ser, da primeira vez (ou uma das primeira vezes)
que ouvi falar de quatro caras que mudaram minha vida.
Beatles
pra mim se encaixa perfeitamente na definição de
coisas-universais-presente-no-nosso-subconsciente: você pode ir para qualquer
lugar do mundo, mas o nome da banda sempre terá peso; você pode mostrar pra
qualquer pessoa a foto do álbum "Abbey Road" que ela a reconhecerá,
mesmo sendo por causa de uma paródia que ela tenha visto não se sabe onde.
Eu tenho certeza que a banda seria exatamente assim pra mim, um
"conheço de não sei de onde", se ela não fosse a minha banda. Qualquer coisa que é nossa a
gente conhece bem.
A minha
primeira lembrança quando o assunto é Beatles, é meu pai com seu velho e bom
MP3 recheado de suas musicas preferidas. Eu me lembro dele pondo Beatles para
tocar e dizendo "É isso que é musica de verdade, minha filha. Quatro pessoas,
um baixo, duas guitarras - uma pra base e outra pra solo -, uma bateria, e ás
vezes um teclado ou gaita para variar. Não precisa ter muita coisa para fazer
boa música. A beleza está na simplicidade." Hoje eu entendo muito bem o
que meu pai queria dizer, mas nos meus seis anos de idade eu não compreendia ao
certo. Eu já gostava de Beatles, é verdade, mas achar aquela banda com musicas
alegrinhas (no MP3 só tinha "I Want To Hold Your Hand", "Day
Tripper", "She Loves You" e " A Hard Day's Night") a
melhor do mundo? Longe disso! Naquela época eu estava ocupada demais ouvindo
Sandy & Junior para me tocar.
Mas
aconteceu algo no final de 2009, como um presente de Natal não intencional, a
descoberta do porquê de "The Beatles" merecer o lugar que tem a na
minha vida. Eu tinha acabado de fazer 14 anos, e passava por uma transição
musical como qualquer adolescente já passou na vida: Desde os meus onze anos,
eu era viciada em uma grande cantora pop mas ela já não me completava mais
(espero que a minha metáfora realmente dê para entender), e por isso tinha
partido para o mundo das guitarras, baterias e baixos, um pouco mais perto das
raízes mais rock n' roll do meu pai (apesar de estar na fase de Avril Lavigne,
Evanescence e derivados, que não chegavam perto do que o meu velho escutava.
Acho importante citá-los porque eles fizeram parte dessa transição que me fez
chegar até El Grand Finale). Estávamos
olhando para a televisão que passava algo irrelevante até que o marido de uma
prima minha, Léo, começou a falar sobre a sua provável saída da banda (na
época ele fazia parte do, nada mais nada menos, grupo "Clube Big
Beatles", um dos maiores e melhores covers dos garotos de Liverpool do
mundo). Quando deu por si, ele já estava falando sobre todo o seu amor e
influência que Beatles tinha em sua vida.
Sem
querer, eu fui contagiada com aquela atmosfera de amor que só essa banda
consegue ter. Soube no mesmo dia sobre como Paul McCartney compôs Hey Jude para
o filho de John Lennon, o impacto de "I Want To Hold Your Hand" por
todo o mundo, a ascensão da banda, todos os primeiros lugares, a luta pela paz,
o contexto histórico, como o Léo conheceu os quatro... E ele também me contou como o
sonho acabou. Lembro-me bem dele descrevendo quando soube da morte de um
dos integrantes:
"Eu
era só um garoto, mas quando ouvi o jornalista dizendo a frase ‘O sonho acabou!
Morre hoje John Lennon...’, não sei o porquê, mas senti um pesar muito grande.
Não tinha uma ideia exata de quem era esse cara na época, mas a atmosfera ficou
pesada e triste como se eu o conhecesse a vida inteira."
Eu talvez
ainda não compreenda os motivos ao certo, mas logo depois desse dia, baixei a
discografia dos Beatles e li tudo o que podia sobre eles. Comprei CD's, vinis,
revistas, DVD's, livros... Ouvir Beatles passou a ser rotina diária! A melodia
de suas canções entrava por meus ouvidos assim como uma luz que adentra em uma
semente impaciente para germinar. E quando dei por mim, já havia crescido
galhos, troncos, folhas e raízes.
O que
eu mais gosto de Beatles, afinal, é o fato que a banda me faz feliz mesmo
quando ouço as musicas mais tristes nos dias mais infelizes. Talvez porque John
Lennon me entenda, o Paul me consola, o George me anima e o Ringo... é o
Ringo. Quanto mais a conheço, mais certeza eu tenho que se trata da minha banda - acho que só se pode ter
essa certeza quando nos identificamos além das canções, mas também em sua
filosofia. Um dia alguém me disse rindo: "Mas que menina
Beatles!", quando defendi o amor e a humanidade com todo o meu coração. E
ele estava mais que certo.