Enfim, Paloma, você
não é mais uma menina.
Sei que é estranho
tomar suas próprias decisões, assim, por si só. Principalmente se ficou a vida
inteira tendo suportes. Era mais fácil quando sua mãe lhe mandava fazer algo, quando
dizia somente um não, quando te inscrevia no balé sem te consultar - desse
jeito, a responsabilidade de ter feito ou ter deixado de fazer não era (ou pelo menos não
parecia ser) toda sua. Nesse momento, o medo de errar ás vezes invade o seu
peito.
Eu sei Paloma, era
mais fácil quando havia alguém por perto. Agora estão todos tão distantes e
mais distantes ficarão. Mas daqui em adiante, você não é mais uma criança, e
precisa aprender a realmente viver sozinha, assim, como sempre achou que estava.
Engraçado perceber que o seu eu solitário era poético e não real.
Faz parte do
crescer, essa coisa solo. Começará a traçar caminhos, e agora é você quem
escolhe Paloma, não mais serão os outros – eles só te darão conselhos. Dizer
“sim”, dizer “não”, é contigo. Seus sonhos de infância serão testados.
Talvez seus sonhos
de infância ficaram na infância. Virar adulta também abre o coração para que nele
entrem novos sonhos (e talvez a crueldade da vida é ser tão curta para
tantas pombas, como disse Raimundo Correia).
Hoje, suas escolhas
começam a ter peso da idade. As pessoas esperam algo de você. Você espera algo
de você. Eu espero algo de ti, Paloma. Passamos a vida inteira achando que estamos
prontos, mas não estamos. A verdade é que a tal da vida é uma aprendizagem, e a
gente vai aprendendo aos poucos a estar preparado. É normal se assustar, mas
acho que você dá conta.
Agir de forma
racional em algo emocional é difícil, principalmente para alguém que sempre foi
tão oposta à lógica. Dizer “adeus” a algo que sempre quis, dói, mas faz parte.
Mas se tudo é aprendizagem, Paloma, você aprende a lidar com isso também
(inclusive, o ensinamento muitas vezes vem dos erros).
Enfim, Paloma, você
agora é uma ex-criança.
Enfim, Paloma, você
agora não é mais uma menina!
Ainda vejo uma cobra e um elefante...