Há um pouco mais de um ano, eu estava fazendo o meu primeiro vestibular para a Fuvest. Como a prova só era aplicada em São Paulo e seus arredores, fui com uma empresa que levava estudantes para esses locais. Então lá foi eu e mais dez pessoas tentar passar na universidade dos nossos sonhos.
ok.
Vamos dizer que a minha viagem não foi nada... agradável. Além do nervosismo e de alguns problemas pessoais, todo mundo só falava numa coisa: provas, provas e mais provas. Não sei porquê, mas como eu tinha ido só pra saber como era a prova, eu não estava num clima tão vidrado. Nunca havia feito cursinho. Estudava por conta própria e nem Sisu eu tentei. Achei o assunto extremamente tediante. Ninguém falava nada além do cursinho, dos professores do cursinho, da prova que fizeram, o que vão fazer, o curso, o resultado, as médias, a concorrência... Socorro! Naquele dia eu prometi pra mim mesma que no meu ano de vestibular, eu não seria daquele jeito.
2014 chegou, e com ele eu mudei de cidade e comecei a fazer cursinho. A rotina não era nada fácil, e a lavagem cerebral começou. 24 horas pensando na maldita faculdade. Aquele frenesi todo se passo ou não, e Ó MEU DEUS, se não passar eu morro (e a minha situação ainda era pior, porque larguei uma escola que eu gostava muito pra fazer o cursinho em outra cidade). Seus professores falavam do Enem, seus colegas falavam do Enem, sua mãe falava no Enem, e seus estudos diziam pra você estudar mais Física.
Sem querer querendo, meus assuntos começaram a girar em torno disso. As raras vezes que eu me encontrava com as minhas amigas era sobre isso que falávamos. Quando não tinha o que falar com alguém, a primeira coisa que vinha era o bendito vestibular. Em casa perguntavam como eu estava me sindo no cursinho. Ninguém nunca me perguntava como eu estava, e sim como estavam os resultados das provas. E assim por diante.
Acho que o momento mais "difícil" disso tudo, foi esses dias: a espera do resultado. Você não pode fazer mais nada, é só sentar, esperar e pedir a deus (ou sei lá quem). Afinal, esse é O momento. Já parou para pensar que até o seu ensino médio (a não ser que você leve uma vida cheia de aventuras e não passe por isso), tudo é previsível?
O próximo ano eu vou para a sétima série.
O próximo ano eu vou para o segundo ano.
O próximo ano eu vou repetir o segundo.
Tudo certinho, a gente fica bem acomodado e acha que vai ser sempre assim. Mas aí acaba o ensino médio e logo depois vem o tapa: E AGORA, MERMÃO?
Eu vou procurar emprego?
Eu vou pro cursinho?
Eu vou pra qual faculdade? Vitória? São Paulo? Rio de Janeiro? Niterói? Acre?
Eu vou vender a minha arte na praia?
Tem essa alternativa também |
Foi nesses últimos dias que eu entendi realmente o porquê de toda essa concentração no vestibular. Eu meio que já sabia inconscientemente, mas percebi que não se trata de uma vaga, se trata de um porto seguro. É dizer "ufa! Eu tenho pra onde ir esse ano!", "Ufa! Eu sei o que eu vou fazer", e até não sair o resultado, mesmo que bom ou ruim, ficamos inquietos, desconfortáveis. Veja só: é a primeira vez na vida que nos lidamos com a incerteza. Arrisco em dizer que nunca paramos pra pensar no que faremos no próximo ano antes disso.
E ai vem o resultado: Finalmente um lugar firme! Mesmo tendo motivos para chorar ou rir, é ele quem traz de volta a tranquilidade - ou a conformidade -, que de certa forma, são águas conhecidas.
Por isso, meu caro, perdoe sempre quando um vestibulando só fala no seu objetivo. Acene, ria, e espere um ano para que ele volte ao normal. Ele só está assim porque precisa desesperadamente voltar para a terra firme.
E, ai, meu deus, como é boa essa sensação!
Obs: Passei em Jornalismo lá na Uff! Feliz :)