Desde quando li Harry
Potter pela primeira vez, eu quis ser da Grifinória. Além do motivo óbvio dos
meus personagens preferidos estarem na casa, eu realmente achava o lema
"coragem e nobreza" o mais bonito de todos - ainda acho, inclusive. Ficava
sonhando com o dia em que o chapéu seletor iria me colocar na casa vermelha e
dourada (!), eu conheceria os marotos (!!) e seria tão inteligente quanto a
Hermione (!!!). Tamanha foi a minha surpresa quando, no primeiro teste que fiz
para saber qual casa eu pertenço, ele deu Corvinal. No primeiro, no segundo, no
terceiro... até mesmo no Pottermore.
Não achava Corvinal ruim,
o pior era que, no fundo, eu sabia perfeitamente que eu tinha tudo a ver
com a casa. Apesar de querer muito, sempre soube que não era corajosa o
bastante (nem nobre) para estar com os grifinorianos -
mas.a.vontade.não.passava! Pouco a pouco fui me acostumando com a ideia, sempre
com uma pontinha de tristeza, mas com um certo orgulho crescente e um forte
sentimento de pertencimento.
Até que, nesse início de
2017, as meninas que moram comigo resolveram fazer o teste, o que me deu
uma vontadezinha de voltar pro Pottermore. Descobri que o site passou por uma
transformação e que eu poderia ou recuperar o meu usuário antigo, ou refazer a
seleção das casas. Fui na segunda opção, pois estava curiosa, mas eu meio que
já esperava qual seria o resultado, então fiz sem muitas expectativas. Quase
pulei da cadeira quando o final do teste disse que eu era Grifinória. Eu
realmente não entendi. Passei por uma crise existencial (!). Não aceitei. Já
estava acostumada com a minha vidinha corviniana (?).
Depois de um dia ou dois,
após o choque da mudança, comecei a refletir sobre os motivos que poderiam ter
levado o resultado mudar (levo a cultura pop realmente a sério mesmo, e
você que é feio?). E o fato é que nesses dois anos morando em São Paulo, numa
cidade tão assutadoramente maravilhosa, vibrante, desconhecida e selvagem, vi
que é impossível passar por alto e eu não me transformar nem um pouquinho. Dois
mil e dezesseis, principalmente, um ano extremamente especial em diversos
aspectos, me desafiou de muitas maneiras conseguindo despertar uma coragem que
eu não sabia que existia em mim. Estou longe de lutar contra Voldemort, mas
estou conseguindo lidar com as minhas mini lutas diárias.
O ano passado começou com
a minha decisão de mudar de curso, definitivamente. Antes eu estava fazendo
História e não me identifiquei logo no primeiro semestre, mas fui empurrando
por medo de enfrentar mais um vestibular, por medo de perder um ano, por medo
de me achar velha demais (!). Até que depois de alguns sinais, percebi que a
situação se tornaria insustentável e eu nunca seria feliz estando no curso em
que eu estava. E, para finalizar, uma certeza cristalina crescia me mostrando
que a minha verdadeira vocação era fazer Letras. Conversei com professores,
alunos e amigos, e decidi migrar para o novo curso de forma não oficial, mas
que me trouxe a maior felicidade do mundo: fazer aquilo que ama.
Isso me fez quebrar um
bloqueio que estava me cercando há muito tempo. Comecei a me abrir e permitir
um espaço para conhecer novas pessoas e fazer amizades, coisa que não tinha
feito pois estava muito concentrada em mim, o que fazia eu me sentir
extremamente solitária e infeliz. Voltei a me sentir empolgada, com vontade de
explorar e viver. Consegui sair de uma república horrível, onde os meus
momentos de ficar em casa (que eu tanto prezo) eram um verdadeiro inferno, e
fui parar num lugar tão bom, mas tão bom, que chamar de lar chega ser pouco.
Acho que não é
coincidência que eu tenha me apaixonado também. Uma consequência esperada.
Complicada, se você for pensar que eu estava num relacionamento a distância há
quase dois anos. E aí veio a segunda coisa mais corajosa que tive de fazer ano
passado, que me causou mais dor do que qualquer outra: dizer adeus a quem ainda
se ama, mas que era preciso dizer adeus. Chorei muito e ainda choro, mas
permanecemos somos amigos e isso faz toda a diferença. Agora estou solteira
(mas sozinha nunca (rs!!)), embarcada em algo tão incerto feito a vida, mas que
me traz muitas alegrias e me desperta tantas coisas...
Foi em dois mil e
dezesseis que eu realmente comecei a construir uma vida no lugar que eu escolhi
viver. Eu já amava São Paulo de forma idealizada e externa, mesmo morando
nela, mas a partir desse ano que eu comecei a me sentir parte de seu
microcosmo, de suas manias, de suas gírias e tepes, no seu ritmo e na vontade
de gritar o quanto eu a amo. Consegui voltar a ser feliz, algo que, durante um
período de extrema desilusão, cheguei a pensar que jamais seria de novo
(dramático? talvez...).
Eu ainda sinto que a minha
casa é Corvinal (não só pelos anos, mas porque é mesmo), porém essa mudança de
resultado foi importante para eu perceber que estou me tornando uma pessoa que
eu sempre quis ser. Lutas diárias são importantes. Mudar e, ao mesmo tempo,
recuperar a si mesma, é extremamente delicioso. Ser selecionada para uma nova
casa foi só simbólico.
Mais
coisas legais que aconteceram em 2016:
- Comecei a ponta no
ballet;
- Conheci o Kio, o Truta e
a Sardinha <3 (E o Edgar, meu gato capixaba, apareceu no começo de 2016
também *_*)
- Participei de uma greve
e ocupação de um prédio (da Letras, no caso);
- Apresentei minha
iniciação científica no Sintusp;
- Fiz uma festa de
aniversário e ganhei um bolo baseado em Harry Potter da minha querida amiga,
Aline Porfirio;
- Voltei a ser usuária
assídua de karaokês;
- Chorei vendo Animais
Fantásticos e Onde Habitam;
- Tive as melhores aulas
da minha vida;
- Minha autoestima
melhorou 50%;
- A vida é bela.
Resoluções
para 2017:
Eu sei que um novo ano, na
prática, não muda nada, mas querendo ou não é o nosso ciclo que se reinicia,
então é uma boa oportunidade de tentar mudar alguma coisa. Quero fazer metas
bem atingíveis, vamos ver se consigo:
1. Me alimentar melhor;
2. Me alongar três vezes
por semana;
3. Usar menos o celular;
4. Fazer uma limpa no
facebook;
5. Fazer um trabalho
comunitário;
6. Juntar dinheirinho pra
uma viagem no fim do ano;
7. Ser mais organizada.
Achei ótimo o post, principalmente por estar precisando de um pouco de coragem grifinória aqui em bh.
ResponderExcluirBjs e um feliz 2017!, já que o ano no Brasil só começa depois do carnaval hahah (sqn, pq férias não to tendo mesmo kkk)
Ps.: surpreso em descobrir sua mudança de curso! Sucesso na nova(?) jornada :)
Oi Paloma, tudo bom? Sei que não conversamos, mas li esse post e tive que vir comentar porque me identifiquei bastante!
ResponderExcluirTambém sou da grifinória e sentia que eu não merecia aquela casa por não ser corajosa o suficiente. Mas, também como você, troquei de curso e me mudei sozinha pra São Paulo... acho que isso já demanda uma certa coragem, né? Ás vezes a gente acaba sendo modesta demais com as nossas forças, não sei direito...
Outra coisa que me identifiquei com você é morar numa república. Também moro em uma que me estresso muito, no meu caso é o dono que é um doido. É ok morar lá no geral, mas muitas vezes me estresso e também não me sinto em casa =/ espero mudar isso logo, não dá pra morar anos numa cidade e não ter um lugar pra chamar de lar.
ah, uma pergunta.. onde você faz ballet? sempre quis fazer, mas sempre achei que fosse muito caro.
Bom, é isso.. se algum dia quiser conversar sobre essas lutas diárias nessa cidade caótica e incrível ao mesmo tempo, estou aqui :)
Beijos!