Obs: esse texto foi escrito como um trabalho extra para a faculdade, baseado na crônica de mesmo nome da Clarice Lispector. Por favor, sem comparações, rs.
É preciso um grande dom de
autoconhecimento para descobrir quantas e quais vidas você já teve. Eu mesma
não o possuo, mas gosto de imaginar que tenho dentro de mim várias: uma vida de
leitora, uma vida de filha, uma vida de estudante, uma vida de ser... – e
dentro de cada uma delas, há um eterno renascer, como se explodissem novas
fontes vitais em todos os momentos de renovação.
A minha estreia como leitora
foi o livro “O Pequeno Príncipe”.
Li-o com sete anos. Minha mãe nunca foi de ler, mas queria ter uma filha rata
de livros – por isso, leu comigo as primeiras páginas para assim me despertar a
vontade de continuá-lo, já que eu não tinha lido nada tão longo antes. Lembro-me
de acha-lo muito engraçado: imaginar os cabritos mal desenhados pelo narrador
me parecia muito divertido, e o ato de olhar para um desenho como uma cobra
engolindo um elefante ao invés de um chapéu, curiosíssimo. Até mesmo o contato
com a morte pelo tombamento do príncipe não me amedrontou: afinal, ele voltaria
para seu planeta e as estrela sorririam para mim dali em diante. Depois dessa
primeira vez, o reli diversas vezes, todas elas prontas para sinalizar um novo
renascer em qualquer uma das minhas tantas vidas – não só como leitora, mas,
principalmente, como um ser em conjunto com o mundo.
O outro primeiro livro da
minha vida (que foram os primeiros, na verdade), agora não só como leitora, mas
como minha formação de eu, foi a série Harry Potter, assim como todos da minha
geração. Ouvi falar pela primeira vez quando a filha de uma amiga da minha mãe,
carioca da gema, disse que viu “reurepórter” no cinema. Eu nunca tinha ido ao
cinema e muito menos sabia do que se tratava “qualquer coisa repórter”. No começo
eu não me interessei: afinal, o que um filme de reportagens poderia me dar? Mas
foi só eu olhar a única livraria da minha cidade (que fechou meses depois) que
eu o vi tão grande e grosso, quase como uma caixinha de presente com letras
brilhantes, parecia um livro que eu leria ao infinito. Não o comprei, peguei
emprestado. Harry Potter foi então o primeiro livro que abriu portas para
tantos outros, e, principalmente, foi a primeira coisa que eu gostei por mim
mesma (excetuando, talvez, vulcões e dinossauros).
Depois, me aventurei por
diversos clássicos da literatura: David Copperfield, Dom Casmurro, Lolita, Anna
Karenina... Todos eles de extrema importância para a minha renovação como
leitora. Mas o último que eu gostaria de falar é “O Apanhador no Campo de
Centeio” de J.D Salinger. Ele apareceu para mim num período de transição
importante, entre o limite da adolescência e vida adulta (pelo menos o mais
próximo de vida adulta que já tive) no qual passei por momentos de profunda
depressão. O livro me fez refletir sobre os outros e sobre mim, como eu lido
com o meu eu, como eu encaro a minha sensibilidade. Foi com ele que dei um
passo definitivo, abrindo portas para a minha nova vida de ser.
Ainda espero por um livro
que poderei dizer “esse livro sou eu!” num modo bem clariciano de dizer. Mas é
provável que essa espera nunca se complete, uma vez que me parece, cada vez
mais, que esse “eu” é composto por todas as minhas vidas, que se renovam de
forma infinita (ainda bem!) e que só alcançará um equilíbrio quando tudo acabar
em ossos.
Talvez, dizer que “esse
livro sou eu agora” seja bem mais preciso.
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