Para ler ouvindo:
Sexta-feira é dia de ballet. E como todo dia de ballet, depois da aula, eu estou quase morrendo de cansaço. Por isso, na hora de voltar pra casa, geralmente eu fico bem quietinha, no cantinho e espremida na cadeira do ônibus, lutando contra o sono e tentando não lembrar que no dia seguinte tem de novo (mas eu amo não se enganem). Nesse pacote de introspecção, inclui não olhar para as pessoas.
Sexta-feira é dia de ballet. E como todo dia de ballet, depois da aula, eu estou quase morrendo de cansaço. Por isso, na hora de voltar pra casa, geralmente eu fico bem quietinha, no cantinho e espremida na cadeira do ônibus, lutando contra o sono e tentando não lembrar que no dia seguinte tem de novo (mas eu amo não se enganem). Nesse pacote de introspecção, inclui não olhar para as pessoas.
Mas como eu já disse por aqui e vale a
pena repetir: eu adoro andar de ônibus. Esta sexta-feira, em especial, foi
importante para me lembrar do por que do amor, já que a rotina ás vezes faz a
gente esquecer. Num certo momento da viagem, fui colocar uma blusa de frio com
todo o cuidado para não esbarrar na pessoa que estava lado, fazendo um
movimento digno de uma contorcionista experiente, sem desviar o olhar da janela
e esperando não chamar atenção. Mas falhei! R. me encontrou! E ainda bem.
- Você é balarina? Fez un movimento aí
con os brazos!
Tomei um susto. Olhei para o lado e vi
um homem moreno, com cabelos bem cacheados que miravam o céu e, não podia
passar despercebida, a característica mais marcante: o sorriso, obviamente -
porque quando não é clichê não tem graça. O que dizer do sorriso daquele rapaz?
De forma metonímica, ele fez esquecer o meu cansaço. Respondi que era
bailarina de ballet clássico, não profissional, e que já dançava fazia uns dois
anos. Ele achou incrível.
Ele tinha um sotaque espanhol muito
agradável e sutil (e eu estou tentando reproduzi-lo porcamente por aqui), que
me deixava curiosa para perguntar de onde vinha. Como eu morei por um tempo com
uma espanhola (um beijo pra ti, Araceli), eu sabia que algumas pessoas ficavam
ofendidas quando são questionadas de prontidão sobre a sua nacionalidade,
principalmente quando tentamos adivinhar de qual lugar ela vem. Assim, resolvi
esperar o momento certo.
Ele me contou que dançava salsa e que
dançar a dois era uma de suas grandes paixões. “É espirituoso, é vivo!” ele
disse, e eu concordei. Comentei que fiz algumas aulas de gafieira e achei muito
gostoso. Depois de acabar o assunto da
dança, fomos para o que cada um fazia da vida. Eu disse que fazia Letras e ele,
cinema. Não estava na faculdade no caso, ele já trabalhava com isso e gostava
muito.
- Aqui en São Paulo é o melhor lugar
para se trabayar con isso!
De fato é, eu disse. Conversamos sobre
como São Paulo tem uma vida cultural intensa, uma cidade que nunca dorme e como
a amamos por isso e por outros motivos. Admiti que eu sou bem caseira e quase
não saio, e ele reagiu dizendo que ficar em casa é até bom, mas é preciso lutar
contra essa vontade ás vezes e ir conhecer a cidade e tudo o que ela tem para
oferecer. Com o repertório de ir para o nordeste, sul e norte do país enquanto
eu mal, mal visitei os quatro estados do sudeste, fiquei até um pouco sem graça
da minha caseirice. Quando ele me perguntou se eu era de São Paulo, pensei logo
que estava ali a minha oportunidade de saber de onde vinha aquele sotaque:
- Eu vin de Cuba.
Eis a surpresa. Tive que me segurar
para não fazer mil perguntas, desde políticas até bastante pessoais: como veio parar aqui? Por que saiu de lá? Gostava
de onde morava? Voltaria a morar? Como são os hospitais? Eu adoro Buena Vista
Social Club, viu? Uma força descomunal, diga-se de passagem, mas o bom senso
venceu a curiosidade, afinal, ele já devia estar cansado de responder perguntas
similares desde que chegou aqui. Me limitei então, a responder um "MUITO
LEGAAAAL!!! Nunca conheci alguém de Cuba antes!"
Conversamos por mais algum tempo até
nos aproximarmos do ponto que ele descia. Como último recurso, pegamos o nome
um do outro para tentar adicionar no facebook. Eu, como sempre, esqueci o
sobrenome dele dois minutos depois. Torci, sem esperanças, que ele se lembrasse
do meu. "Betini? É italiano?".
Qual foi minha surpresa quando vi, no
dia seguinte, esta mensagem:
"Hola Paloma!!! Lindo ter te conhecido! Espero encontros futuros! Bom final de semana! Besos!"
R. me encontrou de novo! E ainda bem.
Gente, que bacana ♥
ResponderExcluirNunca conheci alguém de Cuba, imagino que você teve que lutar muito contra o impulso de fazer todas essas perguntas, porque até eu que não estava lá fiquei mergulhada na curiosidade.
Ainda bem que você encontrou alguém legal no ônibus. Ultimamente só tenho encontrado gente esquisita mas, né? Na da que não renda uma boa história pra contar depois.
Beijos