1. Claudio, aquele que me fez acreditar em anjos.

14 de junho de 2015
Quando eu paro para pensar e percebo que já tenho quase vinte anos nas costas, às vezes me pergunto o que eu vou contar para os netos. Tem gente por aí que diz que duas décadas não é lá muita coisa, ainda há muito chão pela frente pra percorrer, fique tranquila e tenha um bom dia. Não duvido das histórias que eu um dia eu terei e duvido menos ainda que nesses vinte anos eu não tenha algumas historinhas prontas para saírem da caixa, mas que, veja só, nem eu mesmo sei que elas podem ser contadas!

Daí veio o projeto 1001 pessoas que eu conheci antes do fim do mundo lá no MinhaVida Como Ela É, e desde o primeiro post fiquei pensando sobre quais pessoas eu conheci e que eu não quero esquecer de jeito nenhum, seja lá por qual motivo, seja lá por qual asneira. E a resposta veio bem rente e clara: escreva sobre elas. Quis aderir ao projeto na hora, mas me veio a pergunta que não queria calar: sobre quem eu iria escrever? Fiquei procurando A pessoa certa aparecer, ou me recordar dela, ou me animar em escrever sobre ela (quem tem blog sabe...). Até que no início de maio ela veio.

Foi em Niterói quando eu passei na faculdade de lá, mas ainda não tinha saído o resultado da Usp. Pedi para uma amiga que já tinha se mudado pra ficar uns dias com ela para eu garantir a vaga acaso  não conseguisse passar em São Paulo. Ela me deu o endereço, anotei na minha agenda, arrumei as malas, peguei o ônibus e #PartiuCasaDeLivia. A viagem foi bem tranquila, mas as coisas começaram a se complicar quando eu peguei o táxi.

Há um motivo bem específico para eu ter anotado o endereço na minha agenda e não no meu celular. Ele na época estava com um problema sério, o carregador simplesmente não funcionava, ou funcionava bem pouco. Logo, a bateria não duraria nada. Imagina o meu medo de acontecer algo errado e não poder falar com ninguém! Mas nada ia dar errado, ia?

Como o destino gosta de pregar peças, o taxista de repente falou comigo.

- Ô, moça, esse número aqui não existe não. Quer dizer, é uma loja e não é uma loja que você quer né?”
- como assim não existe? A moça me passou esse endereço aqui.
- Bem, dá nessa loja. Cê não anotou o número errado?
- Não, não anotei, é esse endereço aqui.
- Você tem como falar com ela?
- Minha bateria acabou.
- Usa o meu celular. Você tem o telefone dela?
- Só tenho o número no meu celular, e não decorei. Mas posso falar pelo facebook...
- Meu celular não tem facebook.



Aí eu comecei a desesperar. O taxímetro rolando. O taxista ficando bravo comigo. E eu odeio quando pessoas ficam bravas comigo. Então eu fiz a única coisa que qualquer pessoa madura faria: comecei a chorar. Disfarçadamente, óbvio, porque né, mores, a situação já estava brava para eu me sentir ainda mais humilhada.

Num ato de desespero falei pro moço:

- Pode me deixar aqui mesmo, eu me viro.
- Mas vou te deixar aqui do nada? Tá louca?
- Não, moço, não se preocupe, pode me deixar aqui!

Ele deu mais uma voltinha com o carro e me deixou na frente de uma lanchonete e restaurante. Tirou as minhas malas, anotou o seu telefone num papel e me disse: “Esse é o meu número, me mande uma mensagem quando você conseguir chegar. Conheço a gente daqui e eles vão te ajudar”. Daí ele partiu de volta pro seu ponto e eu fiquei lá na lanchonete enquanto os funcionários me ofereciam cafezinho para me consolar.

Então veio o Cláudio. Não me lembro muito de suas feições, mas tenho a sensação que ele era magrelo, com pele morena e olhos grandes e vivos. A voz dele eu me lembro muito bem, pois era alegra e simpática com um sotaque nordestino do Ceará misturado com os anos de vida carioca. E ele me disse para eu ficar calma que tudo vai ficar bem. Faça-me o favor de enxugar essas lágrimas, moça, olha que dia lindo que tá fazendo. Claro que pode pôr o celular pra carregar. Usar o computador? É claro, só vou ligar aqui. Acho que o que você está precisando mesmo é de um café, vou buscar um pouco pra mim e pra você.

E ele se sentou na mesa comigo e perguntou de onde eu vinha.
- Do Espírito Santo? Que lindo! Fazendo faculdade? Pô, já quis fazer faculdade mas nem deu. Sou muito bom em contas, sabe? Me dá um cálculozinho que eu faço num segundo! Eu que tomo conta das contas aqui na lanchonete.

E eu perguntei de onde ele veio.
- Sou do Ceará, moro aqui em Niterói há um tempão, acho que já faz uns dez anos. Não gosto muito de carioca não, muito funk, muito barulho, mas tá bom.

E nesse meio tempo de papo bem gostoso, a Livia respondeu. Parece que o número da casa dela ficava na encruzilhada de uma rua com a outra, portanto, a confusão vinha dali. O Cláudio disse que fazia umas entregas por aquelas bandas, então podia me acompanhar sem problema algum. Colocou as minhas malas na sua bicicleta e me acompanhou até o McDonald que serviria de encontro com a minha anfitriã.

Durante o caminho conversamos mais coisas, mas que, infelizmente, o tempo já apagou. Quando chegamos no destino certo, eu o agradeci tanto que até o fiz corar, e prometi que passaria lá um dia para almoçar – mas infelizmente, acabei não indo. Provavelmente nunca mais verei o Cláudio, e talvez seja assim que as coisas devem ser: uma pessoa muito boa para salvar o seu dia, fazendo com que você acredite em anjos que são tão reais como as ruas pelas quais você passou, mas só por um dia pra não acabar a magia. Eles estão lá, esses anjos. Eles também não estão esperando que você apareça, mas se o acaso quiser, estão prontinhos pra te ajudar a voltar aos trilhos e voltar a enxergar aquilo que o borrão de lágrima te impediu de ver.


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3 comentários:

  1. que lindo :')
    me bateu um leve desespero lendo seu texto, me colocando no seu lugar, perdida, mas logo me acalmei. tá vendo? sempre tem alguém pra ajudar! ainda mais no rj.
    uma vez me perdi perto da PUC RIO com um amigo carioca e passou um taxista perto da gente. a gente fez sinal e ele levou a gente DE GRAÇA até um ponto de onibus pra voltar pra niteroi.

    www.pe-dri-nha.blogspot.com

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    Respostas
    1. Pô isso é massa!! É sempre bom ter gente disposta a ajudar desse jeito. No rio sempre tem gente disposta a ajudar mesmo, incrível!
      Beijos, obrigada por comentar.

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  2. Eu acho esse projeto tão legal, porque mostra como existe gente bacana e com muita história nesse mundão, o Cláudio é uma delas :)
    Beijo

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