desmistificando sex and the city

11 de janeiro de 2016


Desde a primeira vez que eu falei pra alguém que eu gostava de Sex and The City (e diga-se de passagem, tem muito tempo que sou fã da série), os olhares nem sempre foram os mais agradáveis. Eu sei, você sabe e é bem provável que a pessoa que me olhou torto também saiba, que Sex And The City é bem taxado, estereotipado e, por que não, estigmatizado como uma série fútil no qual mulheres ricas só querem saber de homens e de compras. Não posso negar que se você for pegar qualquer sinopse xexelenta é bem provável que seja essa a impressão que fica, e isso pode ser reforçado principalmente se você levar em conta opiniões masculinas que não fazem a mínima questão de entrar no universo feminino sem diminuí-lo.

Eu, uma fã da série e feminista, acho o contrário. Não digo que seja uma obra perfeita – longe disso, e creio que isso nunca foi o seu propósito -, mas que ela possui muitos pontos positivos, é inquestionável, principalmente se você souber como assistir.  Em cada episódio, que aborda um tema específico (geralmente sobre relacionamentos, e não sobre homens), há a visão de quatro mulheres solteiras, independentes financeiramente e muito bem sucedidas em suas profissões, e que em plena década de noventa quando o sexo era tabu e sinônimo de Aids, falam sobre o assunto com naturalidade, fugindo dos padrões e sem preconceitos (pois aborda todos os tipos que você pode imaginar).

Primeiramente, a coisa que mais me chama atenção em Sex And The City é o fato das quatro serem totalmente diferentes uma das outras. Em cada tema mostrado no episódio, todas elas têm uma maneira diferente de lidar com ele, e nenhuma  é julgada ou vista como pior do que as outras. Aliás, outro ponto positivo que podemos tirar disso, é cumplicidade feminina. Em nenhum episódio das seis temporadas*, Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte competem, trapaceam, falam mal ou qualquer outra coisa semelhante sobre si mesmas, desmentindo a falácia de que não existe amizade entre mulheres.


Novamente, só na premissa da série, já vemos mulheres extremamente bem sucedidas em suas carreiras, e que possuem uma boa vida graças a seu esforço. Algumas pessoas encaram isso como futilidade, já eu vejo mulheres gastando seu próprio dinheiro com as coisas que elas gostam. Mesmo com o sucesso profissional, essas mulheres não escapam das alfinetas da sociedade pelo simples fato de ainda serem solteiras mesmo estando na casa dos trinta anos. Em diversos pontos do seriado, isso é tratado com muita ironia e crítica, mostrando que não há nada de errado e ou desesperador em não ter um parceiro nessa idade.

O fato de terem quatro protagonistas é usado de forma inteligente até mesmo nesse quesito. A série não cai no clichê de que “mulher independente é mulher sem marido”, já que uma delas, Charlotte York, deseja casar e ter filhos. Eu acho muito importante mostrar que o empoderamento feminino não é esse estereótipo, uma vez que o feminismo hoje está sendo discutido e invenções mais escabrosas vem a tona (lê-se que o feminismo deseja acabar com a “família tradicional” e outras bizarrices). Outras duas personagens, se imaginam solteiras para o resto de suas vidas e focam no seu lado profissional e nas paqueras cotidianas, enquanto Carrie simplesmente não sabe o que quer de fato. São mulheres bem reais, se você quer saber...

Somente o básico sobre o seriado já mostra vários pontos feministas, ao meu ver, porém, é na temática de cada episódio que realmente vemos a grande chave do sucesso e qualidade de Sex And The City. Veja bem, não é em todos os seriados que vemos mulheres falando sobre masturbação, até mesmo nos dias de hoje. Diversas vezes é incentivado que a mulher se conheça e se ame, se permita conhecer novos prazeres, não ter culpa de ser quem ela é. Dentre tantos assuntos relevantes, posso citar alguns que me vem a cabeça agora, como o aborto, a bissexualidade, autoestima, o que é ser vadia, independência...


Por ser uma série que se trata de um universo restritamente feminino, é claro que dificilmente homens irão gostar (há exceções, é claro). Com isso, obviamente, é aberto a margem para o programa ser taxado como fútil e diminuído em diversos aspectos, como se nada de relevante possa sair de algo construído, falado, exposto e feito, por e para mulheres – sendo ridicularizado até mesmo em seriados ruins como The Big Bang Theory. Nada de novo sob o sol. 

É claro que, como eu já disse, Sex and The City não é uma série perfeita. Tem sérios problemas de falta de diversidade (todas elas são magras, brancas, ricas), em alguns momentos os relacionamentos são exagerados e até mesmo chatos, o custo de vida das protagonistas por muitas vezes realmente soa fútil, dentre outros “defeitos” que poderiam ter sido melhorados (infelizmente, nos filmes eles se tornaram piores! Então, se você só viu os filmes, ignore tudo e veja o seriado!!!). Porém, como eu disse, é uma questão de olhar para as coisas boas e tirar proveito delas, para assim a série mostrar todo o seu potencial.


É uma série que trata sobre relacionamentos? Sim. É uma série que fala muitas vezes sobre homens? Sim. É uma série com protagonistas ricas e consumistas? Uhum. Mas também é uma obra que explora a liberdade sexual e de expressão, que busca mostrar o mundo feminino e seus horizontes, que incentiva o autoconhecimento e fomenta discussões socioculturais. Sex And The City é isso tudo, mas é principalmente, sobre as mulheres e suas próprias escolhas. 

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