Paulicéia

13 de março de 2016
Ou: Turbilhão de coisas.

Era 10 de março de 2015, e a primeira coisa que eu fiz ás seis da manhã foi pegar um ônibus pra São Paulo. Durante as sete horas de viagem (eu estava em Niterói), minha cabeça passou por um turbilhão de coisas. Veja bem, até os meus dezessete anos, eu não imaginava ir pra Pauliceia. O que é um tanto curioso, já que o meu sonho desde pequena era morar numa cidade grande, por motivos que até hoje eu não entendo muito bem, mas que persistiram com versões diferentes na minha cabeça – porém, SP era a cidade do capital, a cidade do caos, a cidade da fumaça, a cidade sem amor.



Essa imagem caricata ficou comigo até eu querer passar na melhor universidade do país. Eu estava passando por um período muito ruim da minha vida. Era o ano de 2013, quando eu entrei em depressão profunda, comecei a me automutilar e fazer terapia. Nessa mesma época, me deu um estalo de ter um objetivo na vida e focar nessa coisa ao máximo para tentar esquecer tudo o que me deixava mal. E isso incluía sair de casa e da cidade onde eu morava.  A solução veio com a Usp e passar num curso que eu achava que era pra mim na época.

Hoje eu olho isso e penso que isso tudo era bem infantil. As besteiras da minha cabeça não iriam passar só porque eu mudaria de cidade. Lembro bem uma coisa que a minha psicóloga disse: “não importa aonde você for, se não estiver bem consigo mesma, nada vai mudar”. Eu não dei ouvido, apesar de fingir que sim (acho que ela não se enganou). Segui com o meu objetivo mesmo não tendo passado na primeira tentativa, ainda mais forte na convicção que São Paulo era o lugar que eu queria e precisava.

Isso porque, com o passar do tempo, fui conhecendo um pouquinho mais sobre a cidade da garoa, e passei a gostar imensamente. Sempre por fotos, sempre pela escrita, nunca tendo pisado o pé em solo paulistano, sem parentes e nem amigos por lá - algo me fascinava, talvez todo o mistério envolvendo desafio e filmes românticos, sex and the city e mundo acadêmico, muita gente e solidão. Pauliceia desvairada.




Quando eu me dei conta que a coisa finalmente estava acontecendo, tanto na rodoviária me despedindo das pessoas que eu mais amava, quanto no ônibus indo direto pra cidade engolidora de homens, pela primeira vez eu senti medo. Não estou querendo pagar de alguém corajosa e vai que é tua (Pottermore não me deixa mentir #ChateadapornãoserGrifinória), mas eu não tinha sentido medo de ir pra São Paulo até aquele exato ponto. Talvez por não saber o REAL significado de ir pra um lugar tão grande até o momento das despedidas, talvez por ser um tanto ingênua. Naquele dia eu chorei feito um bebê.

E essa semana completou um ano desde que essa manhã aconteceu. 1 ano morando em São Paulo. UM.ANO.MORANDO.EM.SÃO.PAULO!

E o que dizer desse lugar que ainda estou aprendendo a chamar de lar? A primeira coisa que me vem na cabeça é quando cheguei aqui e logo de cara eu vi flores amarelas e um mar de prédios logo atrás. É engraçado que a primeira paisagem de São Paulo (fora o metrô), tenha sido algo tão contraditório e plural, uma imagem que define a cidade muito melhor do que qualquer texto que um dia eu venha a escrever.



Porque nesses 365 dias, São Paulo acelerou meu coração como um romance proibido, mas também me encheu de monotonia e exaustão da rotina. São Paulo me mostrou que o cinza, concreto e som das ruas também podem ser belos, ao mesmo tempo em que eu sentia falta do verde e dos cantos dos pássaros. Foi aqui que eu realmente aprendi a andar com as minhas próprias pernas, pagar contas, enfrentar problemas, sentir falta da família, tudo mostrando os sinais de que a idade adulta batia na minha porta, apesar de eu sentir também que cada dia mais eu não sabia (sei) de nada.  

Como definir esse turbilhão de coisas?

Talvez seja esse o segredo da coisa. São Paulo não se define, São Paulo é. É. O que ela é, não sabemos, mas se sabe que ela é algo, que varia de acordo com pessoa, de acordo com o tempo, de acordo com a garoa ou com o sol de quarenta graus que o senhor Deus, Zeus, Alá, Dio, Shiva nos abençoou nesse mais outro dia caótico mas tão adorável. Como eu amo e odeio esse lugar.

Coxinhas passando, mendigos mijando, buzinas, árvores solitárias, prédios de vinte andares, Starbucks e botequim do zé. Assaltos a dez da noite e caridade no metrô. Ai, São Paulo! Comoção de minha vida.

São Paulo! Comoção de minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...

São Paulo! Comoção de minha vida...
Galicismo a berrar nos desertos da América!

(Mario de Andrade)


Obs:. Ironicamente, no dia 10 de março (quando completei exatamente um ano morando aqui), fui assaltada e levaram meu celular. \_()_/¯



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